Quantcast
Channel: Miojo Indie » Super Rich Kids
Viewing all articles
Browse latest Browse all 3

Filme: “The Bling Ring”, Sofia Coppola

0
0

Por: Cleber Facchi

The Bling Ring

Jóias, furtos e salto alto. Em The Bling Ring (2013), quinta película sob a direção de Sofia Coppola, a sensibilidade do discurso, antes praticada em The Virgin Suicides (1999) e Lost In Translation (2003), dá lugar à futilidade cômica dos eventos. Focado na história (real) de um grupo de jovens que roubam celebridades hollywoodianas em busca de diversão, o trabalho reforça a ausência de rumo e instabilidade emocional que ocupa grande parte dos adolescentes. Um esforço conceitual que rompe com a estética prévia da diretora, mas se transforma em acerto ao criar um retrato honesto e, por que não, amargo da juventude atual.

Há quem defenda que o novo trabalho de Coppola nada mais é do que mais um olhar específico sobre os habitantes de Los Angeles/Hollywood. Uma extensão amarga vestida de diálogos cômicos da mesma irregularidade que flutua em Somewhere (2010), último trabalho da diretora. Entretanto, longe de possíveis filtros territoriais e, principalmente, culturais, as câmeras da cineasta trazem um dos retratos mais honestos de qualquer pós-adolescente em crescimento – esconda ele cocaína na  bolsa, ou não. São os flashes a captar fotos de beleza maquiada, alimentos descartáveis para redes sociais ou mesmo a incapacidade em olhar para além do próprio umbigo. Os jovens de Coppola são mesquinhos, carentes de fama e banais. Uma representação visual para os versos de Frank Ocean em Super Rich Kids, canção que abastece a trilha sonora do filme.

Em um sentido de oposição aos trabalhos anteriores de Coppola – sempre interessada em retratar a alma e o universo feminino em um esforço de libertação -, The Bling Ring traz no texto raso das personagens um cenário pintado pelo vazio. É como se a urgência de Rebecca Ahn (Katie Chang), ou mesmo Nicki Moore (Emma Watson), em invadir casas e se apropriar dos objetos de celebridades fosse uma estratégia para falsear a própria angústia. É curioso como diversos aspectos da recente obra parecem se aproximar de Marie Antoinette (2006), como as personagens do filme buscassem pelos mesmos luxos e exageros que alimentam a monarca austríaca. Séculos de transformação que ainda se mantém aprisionados no vazio.

Como se buscasse romper a tonalidade oca das ações impostas pelos personagens, Coppola utiliza de diversos cenas marcadas pelo simbolismo, dando complemento ao trabalho. A mais significativa delas talvez seja a da invasão à casa de Audrina Patridge, outra menção ao esvaziamento e consequente preenchimento temporário que acompanha a película. Também curiosa é a cena ao final do julgamento, em que a queda dos personagens é representada em um irônico desfile de moda, como uma irônica passarela decadente em câmera lenta.

Dividido de maneira intencional em dois blocos – representado pelo disparo da arma e o regresso ao começo da obra -, o filme traz na primeira metade uma apresentação irônica sobre o universo de cada personagem, principalmente o problemático Marc Hall (Israel Broussard). Enquanto o texto da película é abastecido por diálogos cômicos, como a mãe (Leslie Mann) que tenta educar as filhas com base no livro de auto-ajuda O Segredo, uma tapeçaria musical serve de estímulo para as aventuras noturnas dos “criminosos”. São bem escolhidas faixas como 212 de Azealia Banks ou mesmo Bad Girls de M.I.A., que praticamente ditam os rumos e os diálogos do trabalho. “Viver rápido, morrer jovem/  Garotas más são boas nisso”.

Já na “segunda metade“, o tom do filme muda bruscamente. As músicas deixam de exercer um papel fundamental, surgindo de forma distorcida na maior parte do tempo. Os diálogos, por sua vez, diminuem de forma expressiva, como se o espectador fosse previsivelmente convidado a assistir a queda dos ladrões. Das imagens fragmentadas em diferentes tipos de câmeras – um acerto de Coppola -, ao declínio lento, impulsionado pelas drogas, confissões e rupturas entre os personagens, cada cena firma um misto de certeza e angústia. É como se mesmo ciente do encerramento da obra, o espectador fosse aprisionado, assumindo parte da mesma culpa debochada que tanto sustenta o filme.

the-bling-ring-poster

The Bling Ring (2013)

Direção/Roteiro: Sofia Coppola
Elenco: Israel Broussard ,Katie Chang, Taissa Farmiga, Georgia Rock, Emma Watson
Música: Brian Reitzell & Daniel Lopatin
Duração: 90 Minutos

Compartilhe

  • Facebook
  • Twitter
  • Google Plus

Viewing all articles
Browse latest Browse all 3

Latest Images

Trending Articles





Latest Images